Acerca
de dízimos e ofertas
A motivação que me levou a
escrever um pouco sobre o tema acima é a maneira agressiva, e até mesmo
ameaçadora, com que certos pastores evangélicos têm usado na televisão para
pedir dinheiro. Não quero incitar os
crentes a negar dízimos e ofertas mas, evitar decepções ocasionadas por falsas
promessas como já experimentei.
Ao fazer promessas falsas
para os prováveis ofertantes é muito comum citar aquelas contidas em Deut.28:1-14.
Mas, não explicam que elas são condicionais. No versículo 1 existe a exigência
de guardar todos os mandamentos da Lei de Moisés. Ora, sabemos que existem mais
de 600 obrigações a serem cumpridas na Lei como, por exemplo: guardar o Sábado,
ofertar animais para expiação do pecado, etc... Assim, se o pré-requisito não
fosse obedecido a promessa também não seria alcançada. Note também que as
promessas foram feitas ao povo de Israel, sob a Aliança Mosaica, portanto, não
se aplica aos cristãos porque Jesus Cristo instituiu uma Nova Aliança conforme
Mateus 26:28. Essa anulou a antiga aliança conforme 2Cor 3:6-15, Gal 3:13-25,
Heb 7:11-28, Heb 8:8-13, Heb 9:1-26, etc...
Outra promessa, que também é
muito citada pelos requisitantes de dinheiro, diz respeito à semeadura e
colheita. Explico: Jesus contou a parábola do semeador conforme Marcos 4:1-20.
Na explicação, Jesus foi claro ao dizer que a semente é a Palavra de DEUS. Os
nossos pregadores estão distorcendo-a ao pedir para “semear uma oferta” e que
essa será multiplicada por 30, 60 ou 100. DEUS não é banco de investimento! Eu
nunca vi tal acontecer.
Outro argumento utilizado
para solicitar dinheiro é 2Cor 9:6-13. É evidente que o contexto citado está se
referindo a recursos para suprimento das necessidades dos santos. Agora o que
me chama a atenção é que no original grego a palavra SPERMA (é isso mesmo que
você pensou) foi traduzida como semente (versículo 10). Já no contexto do
parágrafo anterior, sobre a parábola do semeador, a palavra usada no grego para
designar semente foi SPORO (vide Lucas 8:11). Ai eu fico em dúvida, pois Jesus
deixou claro que a semente é a Palavra de DEUS. Quando os nossos pregadores
solicitam que seja “semeada uma oferta” tendo como base o texto de 2Cor 9:6,
prometendo aos ofertantes abundante colheita financeira, eu entendo que não é
correto, pois o contexto está se referindo ao sustento dos santos para pregação
do evangelho e abundante colheita de
almas.
Outra maneira de pedir
dinheiro, não sei se maliciosamente ou por ignorância, é citar Lucas 6:38 “Dai
e dar-se vos-á boa medida, recalcada, sacudida, transbordante...”. Esse é o mal
de não se examinar o contexto. O versículo anterior (6:37) está falando a
respeito de perdão e julgamento e não de ofertas. A concordância com outras passagens bíblicas Marcos
4:24 e Mateus 7:2 nos leva a concluir que medir
tem o mesmo sentido de julgar e dar é uma referência a perdão.
Também é muito usado para
pedir dinheiro o texto de Marcos 12:41-44 e Lucas 21:1-4 conhecidos como “oferta
da viúva”. Um dos princípios da Hermenêutica
(ciência para interpretação) é que não se pode instituir uma doutrina a partir de um versículo (no
caso, os dois tratam do mesmo episódio).
A viúva fez uma oferta a partir de uma ordem ou revelação específica de DEUS. Outro texto análogo, diz respeito à
viúva de Sarepta de Sidom. DEUS mandou o profeta Elias ir até ela para que
fosse sustentado. No entanto, a viúva não possuía recursos, só uma última porção
de farinha. Elias deu a ordem para que ela lhe fizesse um bolo porque a sua
farinha nunca mais acabaria, conforme a palavra de DEUS (vide 1Reis 17:8-16) e
tal sucedeu. Não se pode estender o
exemplo para todos. Se uma pessoa tomasse a seguinte decisão: “Pedro andou
sobre as águas então eu também andarei”. Certamente isso constitui tentação a DEUS e não será respondido.
A pessoa irá se afogar. Se eu resolver entregar todo o meu dinheiro sem que
tenha havido uma ordem específica de DEUS, isso é tentação. Não haverá resposta
de DEUS, pois o Senhor só tem compromisso com a Sua palavra. Não são raros os
casos que as pessoas entregam tudo o que têm nas igrejas, baseados em promessas
de pastores irresponsáveis. Quando as respostas não vêm, elas entram em
desespero e caem da fé. Para completar a maldade, em face das promessas não
recebidas, os pastores as acusam de falta de fé. Não devemos tentar a DEUS fazendo aquilo que Êle não mandou.
Quanto ao dízimo, no Antigo
Testamento a sua finalidade, sem dúvida, é para sustentar o sacerdote levita
que ministrava no templo do Senhor, conforme Malaquias 3:10. É pouco falado no
Novo Testamento (NT). O escritor de Hebreus cita Abraão entregando dízimos ao
sacerdote Melquisedeque. Em Mateus 23:23 Jesus repreendeu escribas e fariseus
alertando sobre o que é mais importante na Lei não é o dízimo, mas o juízo, a
misericórdia e a fé. Ainda no Novo Testamento, no livro de Atos 15:28-29 temos
uma importante recomendação dos apóstolos para os novos cristãos: “Pareceu bem
ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargo algum senão estas coisas
necessárias: que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue,
da carne sufocada, e da fornicação; desta coisa fareis bem se vos guardardes.”.
O Apóstolo Paulo talvez tenha sido um dos maiores pregadores do Evangelho, no
entanto, trabalhava tecendo tendas para não ser pesado (consumidor de recursos
financeiros) aos irmãos. Vide 1Tess 2:9 e 2 Tess 3:8.
Concluindo, sem dúvida, esse
é um assunto polêmico e complexo, mas, podemos extrair algumas lições:
1-Não devemos confiar em
falsas esperanças de pregadores que nos prometem abundâncias baseados em textos
da Velha Aliança. Desconfie de qualquer promessa de abundância fora da Nova
Aliança proposta por Jesus Cristo.
2-A obra de propagação do
Evangelho na Terra precisa de dinheiro para ser feita. Sem hipocrisia, o servo que vive exclusivamente
para obra de DEUS necessita de recursos financeiros para seu sustento;
3-Ofertar dinheiro para
pregadores desfilarem de jatinho particular, morar em mansões suntuosas e andar de carros importados de último tipo,
não tem amparo bíblico. Não devemos temer as suas ameaças;
4-Decretos de prosperidade
também não tem fundamento bíblico. No NT, as únicas referências a decretos são
do imperador romano César. Não existe referência no NT a decretos por parte dos
apóstolos. Muitos pastores “decretam” isso e aquilo e nada acontece. Aliás, só
pode emitir decreto quem tem autoridade
e amparo legal para isso;
5-A nossa contribuição não
pode estar além das nossas possibilidades.
Se você entregar o dinheiro do seu aluguel como oferta, esperando algo em
troca, não demorará ser despejado.
6-DEUS não cobra para fazer
milagres em nossas vidas, seja cura ou qualquer outra coisa. As bênçãos de DEUS não são compradas.
7- Conforme está em Mateus
6:25-34 os lírios do campo e as aves do céu não “semeiam ofertas” nem colhem,
no entanto, DEUS cuida deles. Jesus perguntou: “Não tendes vós muito mais valor
do que elas?”. Isto é, DEUS te ama independentemente de você ofertar ou não.
Aliás, esse ensino de Jesus me leva a concluir que DEUS vai cuidar de nós mesmo sem termos
ofertado.
8-Antes de ofertar,
certifique se o destinatário da oferta está de acordo com os parâmetros da
Bíblia e se a doação vai ser realmente utilizada para o Reino de DEUS.
Devemos
contribuir sim para que
a obra de DEUS seja feita, mas, com prudência e sabedoria.
Muitas outras coisas
poderíamos escrever, mas, para que a leitura não se torne cansativa, aqui
encerramos.
Fraternalmente em Cristo Jesus.
Waltênio
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